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REVISTA
CONSTRU
CHEMICAL
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artigo técnico
Retirada das incandescentes do mercado
marca o fim de uma era
Por Gilberto Grosso*
No último dia 30 de junho teve início a primeira etapa do processo que
proibirá definitivamente a fabricação, importação e comercialização de lâm-
padas incandescentes no Brasil, com conclusão prevista para 2016. É o fim
de uma era. Os algozes do seu banimento atendem pelos nomes de sustent-
abilidade, economia e eficiência energética.
A primeira lâmpada de incandescência foi patenteada em1880 pelo americano
ThomasEdison, comomesmodesenhobojudoqueapresentaatéhoje.Ao longode
todo esse período, a únicamudança significativa foi no seu filamento, o fio interno
que emana luz e calor, que no início era de carbono e, atualmente, de tungstênio.
Mas, depois de atravessar incólume todoo séculoXX, a lâmpada incandescente ad-
entrou o XXI como o exemplo acabado de desperdício e ineficiência, uma vez que
seufilamento emite apenas 10%de luz e gera 90%de calor.
O Brasil não é o pioneiro nesse cuidado com a sustentabilidade, suspendendo
as incandescentes como gastonas de energia elétrica. Outros países já aboliram ou
estão em vias de acabar 100% com essas lâmpadas já neste ano, ao mesmo tempo
emque onossopaís dá o seupontapé inicial noprocesso.
Cuba, por exemplo, vem restringindo as incandescentes desde 2007, e a
União Europeia encerra o processo em setembro de 2012 (embora tenha ini-
ciado em 2009 com a proibição da lâmpada de 100W). Na Austrália, quase
todos os modelos de incandescentes estão proibidos desde 2009, restando
apenas as lâmpadas decorativas maiores de 40W e halógenas, cujo suspiro
final deve acontecer em outubro de 2012. E até nossos vizinhos argentinos
iniciaram o programa commais antecedência, em 2008.
A China, responsável pela fabricação de 70% das lâmpadas incandescentes de
todoomundo, anunciounofinal do anopassado seuprograma, propondo a extin-
çãodosmodelos iguaisousuperioresa100Wapartirdeoutubrode2012, chegando
à de 60Wnofinal de 2014 e à de 15Wem2016. Comisso, extinguirá o desperdício
de energia geradopor cerca de 1 bilhãode incandescentes utilizadas nopaís.
Datasmarcadas
Desde o dia 30 de junho, portanto, a lâmpada incandescente de 150W
não podemais ser fabricada nacionalmente ou importada. Todavia, os fabri-
cantes e importadores que ainda tiverem estoques desse modelo têm autor-
ização para comercializá-lo até o dia 30 de dezembro de 2012. E os lojistas,
por sua vez, poderão vendê-lo para os consumidores até 30 de junho de
2013, quando o mesmo estará definitivamente banido.
No Brasil, não existe lei determinando a proibição da fabricação ou impor-
tação e comercialização das incandescentes, como muitos acreditam. O que
existe é uma Portaria Interministerial de n° 1007, de 31/12/2010, na qual o In-
stituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) estabelece
a eficiência luminosa mínima para as lâmpadas incandescentes, em patama-
res muito altos, que inviabilizam sua fabricação.
Estima-se que 350 milhões de incandescentes estejam em uso, hoje, no País,
sendoresponsáveispela iluminaçãode80%das residências.Oprincipalmodeloco-
mercializadoéode60W, que seráproibido totalmente somente emjunhode2015.
Com a saída gradual das incandescentes de tetos e abajures, a aposta é que o
consumidor migrará para as lâmpadas chamadas de econômicas, ou seja, as com-
pactas fluorescentes, que consomem 80% menos energia elétrica. Todavia, uma
parte desse mercado irá também para a incandescente
halógena, modelo de lâmpada com bulbo igual a atual
incandescentede tungstênio, porém30%maiseficiente.
Mas ambas não devemfazer história, pois, ao que tudo
indica, serão rapidamente substituídas pelas lâmpadas
com tecnologia LED (light emitting diode), as grandes
vedetes da atualidade equedeverão representar 50%da
iluminação mundial até 2015 e, segundo expectativas
internacionais, aoredorde80%em2020.
A única certeza é que essa transição aumentará, e
muito, a comercialização das 190 milhões de compac-
tas fluorescentesque seestimamconsumir anualmente,
hoje, no Brasil, além dos outros tipos de lâmpadas. É
uma oportunidade para as empresas sérias em ilumi-
nação e commarcas consagradas há anos no País, mas
tambémumaportaabertaparaaventureirosque imagi-
namque vão ganhar dinheiro fácil importando produ-
tosdequalidadeduvidosa.
Sobre isso, fica a lembrança de 2007, época do
“apagão”, quando proliferaram dezenas de marcas de
lâmpadascompletamentedesconhecidas,quesumiram
comamesma rapidez comque se lançaramnomerca-
do.Não semantes, porém, deixaremumrastrode con-
sumidores enganados e frustrados como desempenho
dosprodutosque compraram“baratinho, baratinho”.
* Gilberto Grosso é lighting professional, possui
ampla experiência na área de iluminação e é, atu-
almente, diretor comercial da Avant, que atua com
soluções para iluminação.