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REVISTA
CONSTRU
CHEMICAL
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conjuntura
Tropicalização de projetos permite que arquitetura
internacional ganhe espaço nomercado brasileiro
Escritórios e consultores locais oferecem parceria para adequação de projetos
concebidos por profissionais estrangeiros
Com a baixa demanda do mercado de construção na Eu-
ropa e Estados Unidos, os grandes escritórios de arquitetura
internacionais buscam novos mercados, e o Brasil surge como
uma excelente oportunidade. Tal situação vem ao encontro da
carência de profissionais bem qualificados que o País enfrenta
no setor. Aproveitando essa crescente demanda por arquite-
tos e engenheiros experientes, cada vez mais estrangeiros têm
interesse na prestação de serviços para o setor da construção,
buscando parcerias comprofissionais nacionais.
A crise internacional contribuiu em muito para que os in-
vestidores estrangeiros identificassem no mercado brasileiro
uma opção de investimento, enquanto os profissionais vis-
lumbram a oportunidade de expansão de carreira. Hoje po-
demos nos deparar com engenheiros residentes em obra cuja
nacionalidade não necessariamente é brasileira, assim como
encontramos arquitetos estrangeiros trabalhando em grandes
escritórios nacionais. Existem grandes escritórios de arquite-
tura, fornecedores internacionais de diversas empresas e espe-
cialidades focados na viabilização de novos negócios no País.
Contudo, a adaptação de projetos à realidade brasileira não
é tão simples. Uma vez que a concepção arquitetônica engloba
diversos fatores, como adequação a legislação, normas técni-
cas, sistemas construtivos, linguagem técnica de projetos - em-
pregada na representação e leitura de projetos, diretrizes téc-
nicas de cada construtora, materiais disponíveis no mercado
e fornecedores locais, entre outras peculiaridades que variam
de região para região. Além, é claro, do processo para apro-
vação das plantas junto aos órgãos públicos locais, que conta
com uma série de especificidades que interferem diretamente
no projeto.
Esse cenário propicia a colaboração e parceria, cada vez
mais intensa, entre escritórios de arquitetura internacionais e
profissionais brasileiros que atuam na chamada tropicalização
dos projetos, termo que sintetiza o serviço de consultoria ou
desenvolvimento de projetos prestado pelos profissionais bra-
sileiros para adaptação dos trabalhos concebidos internacio-
nalmente aos padrões brasileiros. “É um trabalho inevitável.
Por mais que o profissional estrangeiro esteja interado à cultu-
ra local, é fundamental a consultoria para garantir a adequação
às normas técnicas e processos de aprovação locais”, explica a
arquiteta paulista Renata Marques, cujo escritório recebe de-
manda de profissionais de fora do País interessados emestabe-
lecer parceria para futuros projetos.
Outro aspecto importante a ser considerado pelos profis-
sionais que pretendem atuar no mercado brasileiro é a forma
como a cultura local influencia a concepção arquitetônica. O
Brasil apresenta uma grande diversidade em relação às nor-
mas vigentes emcada região, assimcomo emrelação à cultura,
o que influencia as características do produto. “Os diferentes
hábitos da população exercem papel determinante para a de-
finição das características dos imóveis de cada região do País”,
explica Renata.
Para os profissionais que vêmde fora do País o choque cul-
tural pode ser ainda maior. “Na China os empreendimentos
normalmente não possuemáreas de lazer comuns. Os prédios
costumam ter projetos de paisagismo lindíssimos, mas não há
atividade social nesses locais. Um projeto nesse estilo aqui no
Brasil dificilmente vingaria, já que esses espaços estão cada vez
mais valorizados pelos brasileiros”, diz a especialista.
Segundo a arquiteta, a vantagem que o profissional estran-
geiro e as construtoras encontram ao se associarem a escri-
tórios e consultores brasileiros está no suporte que pode ser
oferecido em relação às normas técnicas, contatos de fornece-
dores e demais alterações que se façam necessárias em termos
de tecnologias e sistemas construtivos empregados, “além de
aspectos da própria cultura local, como o uso de termos es-
pecíficos do setor, que facilitem o entendimento das soluções
adotadas pela equipe de obras e demais profissionais envol-
vidos; adequações técnicas necessárias e especificações legais
requeridas para a aprovação do projeto junto aos órgãos públi-
cos locais”, esclarece.
A tropicalização de projetos garante aindamais segurança e
rapidez ao processo de concepção e aprovação, evitando tam-
bém possíveis pontos de conflito entre o que foi previsto nas
plantas e a realidade encontrada no canteiro de obras e exigên-
cias técnicas que precisam ser atendidas.